terça-feira, 15 de novembro de 2016

"O Chaplin Que Ninguém Viu", de David Gill e Kevin Brownlow



O Chaplin Que Ninguém Viu (Unknown Chaplin – 1983)

O dedicado garimpo dos historiadores David Gill e Kevin Brownlow fornece imagens dos bastidores, entrevistas com testemunhas oculares dos projetos, registros de convidados ilustres nas filmagens e tomadas alternativas de cenas clássicas. Ao percebermos quantas possibilidades cômicas ele conseguia extrair de uma simples situação, constatamos a genialidade de alguém que verdadeiramente se importava com essa ferramenta, alguém que lutava para transcender todas as limitações, criando no momento e seguindo o instinto, sem roteiro, testando variações como um pianista perfeccionista e apaixonado.

O segmento inicial, “Os Anos Mais Felizes”, foca no período dele no estúdio Mutual, primeira vez em que ele alçou voos maiores em curtas com total controle criativo. A quantidade absurda de negativos utilizada, por vezes em sequências que acabavam não sendo usadas, demonstra a empolgação do jovem em marcar seu nome na indústria. Vale ressaltar também sua esperteza em elaborar truques visuais aparentemente simples, mas engenhosos, pra potencializar o impacto cômico das cenas. O segundo segmento, “O Grande Diretor”, apresenta a natureza mais conflituosa e temperamental do artista, alguém capaz de refazer um filme inteiro apenas pra trocar a atriz principal. O foco nos longas “O Garoto”, “Em Busca do Ouro” e “Luzes da Cidade”, representa a maturidade profissional de Chaplin. Já o terceiro segmento, “Tesouro Escondido”, joga luz em sequências descartadas de seus filmes, incluindo testes e brincadeiras que seriam aprimoradas em suas produções futuras. É uma valiosa colcha de retalhos em que temos a chance de ver um artista mais descontraído, o sorriso sincero de satisfação que é dado alguns segundos depois do corte de uma cena e a preocupação, mais sincera ainda, que atravessa em seu rosto na preparação inicial, em suma, a mágica desenvoltura na relação entre criador e criatura aos olhos da câmera.

O material exibido nesse excelente documentário em três partes é essencial, não somente para os fãs de Carlitos, que irão entender como funcionava a mente criativa do mestre, como também para todos aqueles que possuem um mínimo interesse sobre os alicerces da história do cinema. 


* O documentário está sendo lançado em DVD pela distribuidora "Obras-Primas do Cinema", em edição de luxo com um belo pôster e dois cards.

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